Ja parou pra se perguntar: o que passa na cabecinha dela?
- Bruna Fang
- 2 de set. de 2024
- 6 min de leitura
Passo por inúmeras crises existenciais e essa foi uma delas. Desse devaneio saiu um lindo texto, que decidi compartilhar com vocês. Bem vindos ao meu mundo interno, boa sorte:
Qual é o impacto que eu anseio ter no mundo, nas vidas que amo, nas que sequer conheço? Seria possível escolher como minha presença afetará alguém? Posso abrir meu coração e compreender minhas intenções, mas o controle absoluto nunca será meu. Mesmo ciente do impacto que desejo causar, nunca terei certeza do efeito real que minhas escolhas terão. E isso me assombra.
Por que é tão difícil abrir mão do controle?
A natureza me fascina, pois, em sua simplicidade, é capaz de tocar profundamente. Um raio de sol entra pela minha janela e, de repente, sinto um impulso de alegria, desejo de me entregar ao calor, de mergulhar na piscina, sair de casa e passear.
Esse raio de sol tem consciência do seu impacto em mim? Se eu descobrisse que ele ilumina minha janela com a intenção de me influenciar ou de me controlar, mudaria meu sentimento por ele? E se ele simplesmente faz o que faz sem qualquer intenção, isso alteraria seu valor para mim? E, se eu expressasse minha gratidão por ele, isso mudaria algo para ele?
O sol, mesmo com ou sem consciência, continua a brilhar, sem se preocupar com o efeito que causa em mim.
E não seria mais importante saber o que EU faço com a luz do sol, independente de suas intenções comigo?
Assim como é vital para o sol ser livre em sua existência, eu também preciso encontrar minha liberdade em como compartilho minhas intenções.
Veio agora na minha cabeça: é, a natureza não é só maravilhas, me sinto às vezes amada pela natureza e às vezes ameaçada. O ato de me expressar será sempre assim, ambíguo. Não sei das intenções do sol, mas sei das minhas e eu preciso desse lembrete: me expressar precisa ser feito como um gesto de amor, não de controle. Precisa ser feito como um ato de amor para mim mesma e para aqueles que amam minha expressão, no intuito de inspirar, ampliar perspectivas, não para justificar ou manipular como sou percebida. Digo isso mais pra mim mesma, para tentar me privar da frustração, pois nunca serei capaz de controlar a narrativa que alguém terá de mim - e isso me assusta.
É um desafio aceitar que minhas boas intenções podem chegar desprovidas de efeito ou até mesmo causar ofensa. É isso que me leva a olhar mais para fora do que para dentro, o tempo todo.
Preciso mudar esse foco.
Como o sol, minha existência pode ser interpretada de muitas formas, boa ou ruim, dependendo de quem observa. E como é difícil perceber que decidi inúmeras coisas achando que essa decisão teria ALGUM controle sobre quem me observa.
No fim teve controle sobre mim. E como não percebi que deixei isso me controlar por tanto tempo? Que frustrante.
Tá, já entendi. Eu preciso parar de tentar evitar o desconforto de falar o que realmente penso ou abrir mão da vontade de controlar a narrativa alheia sobre mim. Só posso entender minhas próprias perspectivas e estar aberta a modificar preconceitos, para aos queridos que valem a pena. Apreciar as interpretações que são agradáveis e aceitar a complexidade de ser compreendida.
Como o sol, minha presença pode aquecer ou queimar, nutrir ou secar. Faz parte, é a vida.
Mas nossa, como é difícil aceitar que minha própria luz possa também ofuscar e ferir. Essa minha necessidade de controle revela um ego que deseja apenas oferecer valor. Mas ser apenas valor não é verdadeiramente completo. Sou também fonte de dor, sou humana, e a natureza humana será sempre ambivalente, que saco.
Desejo criar momentos inesquecíveis para aqueles que valorizam minha presença, mas me sinto vulnerável com aqueles que não me apreciam. hahaha é engraçado imaginar como se eu fosse uma chuva que aliviou uma seca, mas que só se sente importante quando ouve que minha presença era essencial ou fica focando nas pessoas que falam "que droga, tá chovendo" - e daí fico triste.
O desejo de ser desejado custa caro, o preço é depender da validação dos outros.
Ao desejar ser apenas valor, não vejo que a ambivalência é o que me torna genuína e inteira. E a parte mais louca de perceber agora é que é óbvio que, se alguém pudesse escolher, escolheria apenas o que há de valioso nas experiências.
Isso implica que para me aceitar de verdade, preciso aceitar que eu vou realmente viver a minha experiência por inteira (no meu corpo).. E a experiência completa de ser humana não contém somente a parte boa.
Apesar de compreender a beleza disso, ainda não desejo causar ou sentir dor e ver que isso faz parte da minha existência me faz sofrer. É que embora eu não tenha controle total, eu tenho consciência da dor, e isso é o que torna a experiência humana desafiadora.
O que me diferencia do sol é a consciência da minha própria existência e das consequências que minhas ações têm sobre mim e o mundo. O sol não questiona seu lugar, mas eu, como ser humano, questiono e reexamino diariamente meus próprios atos.
Reexamino levando em consideração que faço parte de uma espécie que muitas vezes desrespeita seu lugar e que repete violências livremente, por "escolher a ignorância". Ter essa consciência de que posso reproduzir e ser vítima dessas violências me faz refletir e procurar mudar, só não sei como - o que gera mais angústia.
Falei pra mim mesma e logo ri da minha própria ingenuidade: "no futuro, quero brilhar como o sol, sem medo". Me respondi imediatamente: "minha filha, seu medo morre junto com você, tem certeza que você quer isso?"
Será que meus olhos estão muito voltados ao medo?
Para a Bruna sobreviver ela precisa sentir medo.
E para a bruna viver sua vida plenamente, ela precisa sentir muito mais do que o medo: ela sentirá medo, angústia, alegria, paz, raiva, irritação, fúria, excitação e várias outras coisas que ela não aceita viver.
Interessante que quando penso numa pessoa iluminada, bem resolvida, eu penso numa pessoa que não sente tudo isso, ou uma pessoa que sente e que é capaz de manter tudo isso dentro do controle. Mas o que eu entendi até agora é que pessoas sentem muito e por trás de todos esses sentimentos há uma variedade de virtudes, histórias, unicidade, que muitas vezes elas mesmas não enxergam por não aceitarem essas sensações.
Por hora encontrei a resposta pra pergunta que me angustiou inicialmente:
Quando foi que eu me perdi de mim mesma?
Quando decidi lutar contra tudo o que acontecia dentro de mim, me subestimando ao achar que aquilo era tudo o que sou.
O que eu quero? Ainda não sei exatamente, mas por algum lugar próximo disso aqui:
Ser capaz de tolerar a existência de opiniões divergentes sobre quem sem que isso se torne uma ameaça à minha essência.
Ser capaz de tolerar o fato de que causarei dor, mesmo de forma não intencional. Ser capaz de expressar um pedido de desculpas pela minha falta de consciência tentando sempre interromper ciclos que reproduzem a violência humana.
Entender que me encaixar em vidas apertadas não é diminuir meu tamanho, mas ser prática em caber onde quero estar. Ah, e também não vou forçar que alguém abra espaço para me acomodar, se só cabe 1% de bruna é 1% de bruna que a pessoa terá.
Ou seja, aceitarei que minha presença é do tamanho necessário para cada universo que posso habitar.
Aproveitarei a companhia de quem gosta de estar perto de mim e serei generosa com aqueles que não me apreciam. Mesmo assim, não aceitarei injustiças e saberei que serei defendida por aqueles que realmente me conhecem.
E mesmo com toda essa importância, manterei a esperança de que, em cada situação, meu ego não me engane novamente, me reduzindo à quem ele acha que sou ou quem eu deveria ser.
Aceitarei o controle pouco vale diante da minha essência, sendo capaz de reconhecer que minha ausência também pode ser necessária e confortável para alguns.
Que eu possa aceitar a realidade, sabendo que meu valor não se trata sobre o que acho da minha própria vida, mas ao fato de eu poder viver todas essas experiências intensas e complexas dentro de mim.
Consciente. Li e aceito os termos.
Acho que vou tomar um solzinho que ainda dá tempo.
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