Amparo
- Bruna Fang
- 3 de set. de 2024
- 2 min de leitura
O poema a seguir é uma construção profundamente pessoal, algo que ponderei bastante antes de compartilhar. Entendo que ele pode tocar em lugares muito sensíveis para algumas pessoas, especialmente para aqueles que percebem que muitos dos seus traumas são geracionais – pessoas abandonadas que abandonam seus filhos, que por sua vez abandonam os seus, e assim por diante. Este poema reflete decisões que podem não se aplicar a todos que já vivenciaram o abandono, mas espero que ele possa oferecer um momento de reflexão para aqueles que se identificarem.
Amparo é o lugar
que as angústias repousam temporariamente.
A dor se dissipa, alivia,
abrindo espaço pro presente.
Difícil é saber
pra onde correr,
pois há lugares que amplificam o sofrer
e desamparam.
Um pedido de ajuda desatendido
leva à humilhação,
aumenta a necessidade de colo
que é vista com reprovação.
O desamparo danifica,
desencadeia desistência,
causa a solidão.
Após tanta angústia desamparada,
desespera qualquer alma
que renuncia toda e qualquer emoção.
Eu vi que isso aconteceu com você, pais.
Será que ainda tem alguém aí?
Disposto a voltar a confiar?
Isso me entristece profundamente.
Essa repetição há de cessar!
Por favor, eu suplico, acreditem:
há um novo lugar pro seu sofrer.
A sua dor, que caiu no vazio,
não precisa mais reverberar em vocês.
Finda o eco da sua dor,
da cega repetição da ausência de amor.
Acreditem em mim, sua filha que te vê agora.
Eu consegui fazer meu eco parar!
Reparei o que estava oco em meu ser
e parei de repetir o desamparar.
Finalmente entendi o que dará fim às suas angústias.
Não está no que vocês tentaram me oferecer
Em obter um excelente par,
conquistar uma vida espetacular,
ou fazer qualquer merda
que te induziram a acreditar.
Descobri que amparar sem par,
se torna amar.
Foi assim que descobri o meu amparo
num espaço sempre pronto para me amar.
Como foi que nunca vi,
esse lugar sempre esteve aqui dentro de mim
Me dei espaço, ouvi minha voz,
dentro da minha própria história
e encontrei amor, no fim.
Fui capaz de me amparar, mesmo só,
parei o eco que intensificava meu sofrer
e quero levar isso a vocês.
Eu te juro que ainda dá tempo,
não se abandonem, interrompam a ignorância.
Seu colo vazio alimenta o meu desamparo,
pare de repetir em mim o que te foi feito.
Repare em si mesmo, se ampare, se dê outra chance.
Perceba que ainda há amor pra você
Que há espaço para a sua presença
Só torço para que tenha coragem
de reaprender a amar,
no seu próprio tempo, do seu jeito.
Pra mim, isso já não faz mais diferença.
Não tenho mais pressa, já esperei por anos,
anos que aprendi, sozinha,
como se faz para me amparar.
Essa é minha dor falando,
não quero te condenar.
Já perdoei sua antiga ausência,
Agora temos uma escolha
de repetir ou interromper o abandono.
E apesar da dor da solidão, eu me desafiei
a ensinar a próxima geração
a amparar sem par,
a amar.
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