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A pressa

O poema a seguir foi escrito por mim, num momento de introspecção após inúmeras consultas com diferentes pacientes que compartilhavam um sentimento em comum: a sensação de que a vida está atrasada. Em cada relato, percebi um tema emergente — a luta contra a pressão do tempo e a necessidade de aceitação pessoal. Este poema reflete essas observações e a jornada interna que muitos de nós enfrentamos ao tentar encontrar nosso próprio ritmo e significado da nossa própria jornada.


Aquele que se observa

Vê seu ritmo acelerado,

há tempos se apressa,

cabendo em tempos apertados.


Será que foi nessa pressa

que se perdeu?

Daquela criança autêntica?

Do seu verdadeiro eu?


Há a pressa de chegar a uma expectativa,

num sucesso que parece ser seu,

numa ideia que veste bem,

mas que apressa, pressiona, oprime.


Teus medos e erros,

escolhas, batalhas,

tuas dores e tua história.


Rejeita as únicas coisas

que tornam sua essa trajetória,

a sua essência, seu jeito de ser.


Que pressa é essa para caber

em uma medida igual ou maior que a do outro?

Se a sua vida não cabe nem em você,

de que adianta então, viver?


A pressa foi tanta

que tornou-se pressão,

pressionando-se para impressionar,

egos famintos, insaciáveis,

ritmos distintos, sem tempo para seus detalhes e entraves.


Sua vida impressionante te esconde,

numa vida apertada que,

ao se libertar, compreende

que a vida é mais do que o lugar que sua opinião te leva,

ela é a jornada

que acontece com ou sem você.


Acelerar a vida antecipa a sua morte,

a morte do seu jeito de ser, dos seus sentidos,

e ao deixar de sentir a sua própria vida,

ela continua a acontecer à sorte.


Abra espaço dentro de você

para viver a sua jornada,

há espaço pra você no mundo,

inicia-se dentro de si mesmo e em mais nada,

em todo tempo que você chama de seu,

que, na coragem de se expressar, afeta,

todos os afetos que você conheceu.


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